terça-feira, 26 de outubro de 2010

OS UNIVERSAIS

Universal – o conceito

Para os realistas, universal é o ente predicado de vários outros (ou, em particular, todos os demais) entes. Ele existe objetivamente: seja como uma realidade em si, transcendente em relação ao particular, seja como um imanente encontrado em todas as coisas individuais. Para o conceitualismo, universal é tão somente aquele conteúdo ou conceito que é inteligível para a nossa mente: é uma representação do intelecto, que a deriva das coisas e com essas guarda alguma semelhança.

Os universais por Severino Boécio

Boécio fez sua a solução de Alexandre de Afrodisias, que é a seguinte:
a) Objeto do Pensamento o homem, a virtude, o bem, sob esta forma de universalidade não são realidades, mas objetos do pensamento que, certo, se fundem com a realidade. O verdadeiro real e existente por uma prioridade de natureza é o indivíduo. Dele o nosso pensamento abstrai o universal, conservando as notas comuns na certeza de, assim, atingir a essência.

b) Natureza incorpórea — Esta essência universal chama-lhe Boécio forma, imagem do pensamento, natureza incorpórea. E pensa que nesses dados mentais se aninham as idéias que se haviam concretizado nas coisas corpóreas. O que vem de novo a significar que o universal existe, por prioridade de natureza, pois  assume  uma  forma concreta Aí se declara que as formas universais não se abstraem das coisas particulares, mas que o nosso espírito se lembra de formas apriori, tendo o conhecimento sensível apenas a função de despertar essa relembrança. Por onde e claramente, os universais existem, ainda uma vez, com prioridade de natureza, para falar como Aristóteles.

c) Boécio contra Boécio? Boécio assumiu assim duas posições diferentes. Por um momento aderiu ele à interpretação empírico-naturalista que deu Alexandre ao pensamento de Aristóteles, de cuja linguagem se serviu. Mas, na verdade, conservou o pensamento exato do genuíno Aristóteles que, na sua polêmica com Platão, parece colocar-se na posição de Alexandre. Mas, nos passos decisivos da sua Metafísica, tal como a possuímos hoje, de ordinário platoniza. Assim também Boécio. Por aí ele não somente indicou à Idade Média o caminho para o fecundo campo espiritual de Aristóteles, mas antes de tudo lhe abriu a possibilidade de uma síntese entre a filosofia aristotélica e a augustiniano-platônica. Mas também, e em particular nos seus comentários ao Isagogo, sugeriu aos espíritos, mais presos às palavras que à realidade, as tentativas de Alexandre.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ESPIRITUALIDADE E IMORTALIDADE DA ALMA


A Espiritualidade e a Imortalidade da alma
 Santo Tomás de Aquino faz ver que a alma humana em sua atividade específica não depende intrinsecamente da matéria. A uma inteligência sã, a uma vontade reta, isto basta. O próprio conceito de alma está desqualificado, quase que esquecido e relegado pela própria teologia. Os cientistas sem ética são tão exaltados e tudo o que dizem ou fazem passa a ser o critério de juízo sobre todas as coisas. 
           É inegável a beleza e o valor do argumento de ordem psicológica. Além disso, pode-se relacionar o problema da espiritualidade da alma com o problema do mal moral. O homem é capaz de ações tão nobres, que não se saberia explicar como resultantes em última análise de uma combinação de elementos químicos cerebrais. Mas também é capaz de coisas tão ignóbeis que não se poderiam explicar apenas pelo mau uso da liberdade.
Se não há vida após a morte, não é possível justiça, pois não há verdadeiro prêmio nem verdadeiro castigo para os atos humanos. Se Deus não existe, tudo é permitido. A imortalidade extrínseca poderia existir somente através do criador da alma: Deus. Apenas Deus poderia jogá-la para o nada, mas a sua sabedoria nos prova que o seu desejo e intenção foi torná-la imortal, para jamais destruir a sua obra. 
          Assim, a alma é imortal, segundo Agostinho, as potências da alma concorrem mais para o mérito do que o corpo, este é apenas um instrumento de ação, já que a alma trata-se do ser, da essência. “A alma é o princípio do agir”, cabe aos seres humanos a vontade de manter viva a essência benéfica, direcionando-a sempre às boas ações, fazendo da alma uma eterna possibilidade de ser feliz.
          Para Platão o homem é definido como uma alma que se serve de um corpo.  Agostinho mantém esse conceito com todas as consequências lógicas que ele comporta.  Assim o verdadeiro conhecimento não seria a apreensão de objetos exteriores ao sujeito, devido a sua variabilidade, e sim, a descoberta de regras imutáveis, como o princípio ético segundo o qual é necessário fazer o bem e evitar o mal. Essa verificação permite a indagação se o próprio homem é a fonte dos conhecimentos perfeitos. 
         A semelhança nesse ponto entre Platão e Agostinho, só é desfeita ao compreender a percepção do inteligível na alma, não como uma descoberta de um conteúdo passado, mas como irradiação divina no presente.  A luz eterna da razão que procede de Deus atua a todo o momento, possibilitando o conhecimento das verdades eternas.
 “A alma é o princípio do agir”