Universal – o conceito
Para os realistas, universal é o ente predicado de vários outros (ou, em particular, todos os demais) entes. Ele existe objetivamente: seja como uma realidade em si, transcendente em relação ao particular, seja como um imanente encontrado em todas as coisas individuais. Para o conceitualismo, universal é tão somente aquele conteúdo ou conceito que é inteligível para a nossa mente: é uma representação do intelecto, que a deriva das coisas e com essas guarda alguma semelhança.
Os universais por Severino Boécio
Boécio fez sua a solução de Alexandre de Afrodisias, que é a seguinte:
a) Objeto do Pensamento – o homem, a virtude, o bem, sob esta forma de universalidade não são realidades, mas objetos do pensamento que, certo, se fundem com a realidade. O verdadeiro real e existente por uma prioridade de natureza é o indivíduo. Dele o nosso pensamento abstrai o universal, conservando as notas comuns na certeza de, assim, atingir a essência.
b) Natureza incorpórea — Esta essência universal chama-lhe Boécio forma, imagem do pensamento, natureza incorpórea. E pensa que nesses dados mentais se aninham as idéias que se haviam concretizado nas coisas corpóreas. O que vem de novo a significar que o universal existe, por prioridade de natureza, pois assume uma forma concreta Aí se declara que as formas universais não se abstraem das coisas particulares, mas que o nosso espírito se lembra de formas apriori, tendo o conhecimento sensível apenas a função de despertar essa relembrança. Por onde e claramente, os universais existem, ainda uma vez, com prioridade de natureza, para falar como Aristóteles.
c) Boécio contra Boécio? — Boécio assumiu assim duas posições diferentes. Por um momento aderiu ele à interpretação empírico-naturalista que deu Alexandre ao pensamento de Aristóteles, de cuja linguagem se serviu. Mas, na verdade, conservou o pensamento exato do genuíno Aristóteles que, na sua polêmica com Platão, parece colocar-se na posição de Alexandre. Mas, nos passos decisivos da sua Metafísica, tal como a possuímos hoje, de ordinário platoniza. Assim também Boécio. Por aí ele não somente indicou à Idade Média o caminho para o fecundo campo espiritual de Aristóteles, mas antes de tudo lhe abriu a possibilidade de uma síntese entre a filosofia aristotélica e a augustiniano-platônica. Mas também, e em particular nos seus comentários ao Isagogo, sugeriu aos espíritos, mais presos às palavras que à realidade, as tentativas de Alexandre.